Concursos de beleza e a pressão estética

Na cidade de Icó, os concursos de beleza se popularizaram em 2017, impulsionados pela vitória da icoense Morgana Carlos, que representou a cidade de Quixadá no concurso de Miss Ceará BE EMOTION 2016. Desde então, concursos e aclamações aconteceram, mas como o concurso afeta a saúde mental das candidatas? No concurso é necessário atender um rígido padrão estético e comportamental. As provas incluem prova de melhor corpo, passarela, talento, além de ser julgado o comportamento e etiqueta das participantes.

Débora Araújo e Caroliny Pinheiro foram participantes do Miss Teen Global Beauty 2018, ambas tinham apenas 17 anos no período e contam um pouco sobre como a participação no concurso as afetou. Débora que já tinha inseguranças com seu corpo desde a infância conta que o concurso colocou isso em evidência, ela afirma que “na infância sempre comentavam sobre meus olhos que eram um pouco vesgos e as minhas pernas que eram meio tortinhas, foram inseguranças que me acompanharam, e acabei escolhendo entrar num ambiente que foi tóxico para mim, um concurso de Miss.” Ela conta que sentiu que a competição a afetou muito, que era impossível não se comparar às outras candidatas, especialmente na prova de melhor corpo e quanto a sua passarela, que devido sua timidez e jeito de andar não se destacava entre as demais participantes. A relação com seu corpo foi muito afetada pois mesmo já sendo magra e tendo um corpo considerado padrão, o padrão de corpo Miss exigia que ela fosse ainda mais magra. Por falta de conhecimento ela passou a não se alimentar tão bem, a parar de comer antes de ensaios, o que afetou a saúde da ex-participante. A prova de melhor corpo em específico foi uma das provas que mais a afetou, ela comenta que se sentia “magra errada”.

Caroliny Pinheiro, estudante de enfermagem, também participou do mesmo concurso, ela foi motivada por pessoas da cidade que comentavam que ela deveria participar. Para a ex-participante a principal questão era seu peso, ela não se encaixava no “padrão miss” e se cobrava muito para se encaixar no padrão. Ela perdeu cerca de sete quilos no período e segundo ela havia muita autocobrança no processo de emagrecimento: “eu me senti sob muito pressão, não somente das pessoas ao meu redor, mas eu mesma me colocava nessa posição de me julgar não estar boa o suficiente, por ver que as meninas que iam competir comigo estavam bem mais magras que eu, e eu queria pelo menos chegar perto daquele ‘padrão de miss’.” As ex-candidatas também contam que observavam essas inseguranças em outras candidatas que paravam de se alimentar para atender ao padrão corporal do concurso. Todas as participantes já eram magras e mesmo assim existia, para algumas, a pressão de ser ainda mais magra.