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Um novo coelhinho para a Playboy?

  • Foto do escritor: Thiago Ribeiro dos Santos
    Thiago Ribeiro dos Santos
  • 29 de dez. de 2021
  • 4 min de leitura

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Em outubro de 2021, a revista Playboy estampou em sua capa o influenciador Bretman Rock, 23 anos, filipino conhecido pelos vídeos tutoriais de maquiagem que conta com 17 milhões de seguidores no Instagram e declaradamente gay. Ao contrário de outras publicações da revista com homens na capa, ele aparece sensualizando em uma releitura do icônico traje de coelhinha. Sendo a Playboy voltada ao público masculino heterossexual, qual o sentido por trás da capa da referida edição?

Na história da Playboy houveram dez capas nas quais homens aparecem acompanhados de mulheres. Eles estão em posição de autoridade vestindo roupas formais ou em vestes e posturas cômicas. As mulheres que os acompanham, em poses submissas e com roupas sensuais ou ausência destas. Em 2017, o fundador da revista Hugh Hefner, estampou sozinho a capa em uma homenagem póstuma devido à morte dele no mesmo ano. Já em 2020, quando a revista passou a ser publicada apenas digitalmente, o cantor conhecido como Bad Bunny tornou-se o segundo homem a aparecer sozinho na capa da Playboy. Nesta edição, ele disse em entrevista ser representante do amor livre. E como mencionado anteriormente, em 2021, Bretman Rock incorpora a estética difundida pela revista, em capas com mulheres, sendo agora o “coelhinho” da Playboy.

As coelhinhas surgiram nos anos 60 com os clubes da Playboy. Eram jovens entre 18 e 25 anos que atuavam como garçonetes e, posteriormente, frequentavam a mansão Playboy. Uma amiga de Hugh Hefner, Ilsa Taurins, sugeriu vestir as garotas com um maiô de cetim, orelhas e um rabinho peludo. Após dois anos, a estilista francesa Renée Blot afinou a cintura, aumentou o decote, adicionou a gravata borboleta e os punhos. Esta roupa foi projetada para valorizar o corpo feminino, sendo uma condição para ser coelhinha entrar na fantasia, visto que ela tinha tamanho único.

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Na imagem de capa divulgada em outubro de 2021, Bretman Rock recria não somente essa vestimenta como também a postura sensual e a aparência propagadas pelo periódico. Ele usa um corset abaixo do peitoral, tipo um body, com amarrações laterais e o pompom branco, tipo rabo de coelho, nas costas. Meia calça com detalhe de listras verticais e alguns rasgos. Sandália meia pata, bem elevada, com bico fechado e tira de fechamento com pedrarias. Punho francês ou duplo com abotoadura, o mais sofisticado do vestuário masculino. Colarinho com ponta dobrada ou quebrado (restrito ao black-tie), usado com gravata borboleta. O traje contém somente as cores preto e branco. Bretman Rock ainda aparece com unhas pintadas, maquiado, com destaque para as sobrancelhas grossas, e exibindo as tatuagens. Utiliza brincos nas duas orelhas, sendo o da esquerda mais proeminente e também um piercing no mamilo do mesmo lado. O cabelo tem inspiração nos penteados femininos dos anos 30, retratado também em pin-ups da época, e está ornado com tiara contendo orelhas de coelho com a ponta de uma delas virada para baixo. Tanto Bretman Rock como o look que ele traja contém aspectos andrógenos, mesclando elementos tanto do universo masculino quanto do feminino.

Segundo o próprio Bretman Rock, no twitter oficial da revista, “ter um homem na capa da Playboy é um grande compromisso com a comunidade LGBTQIA+. Assim como para a comunidade de pessoas pardas e completamente surreal”. A edição, então, traz visibilidade ao público LGBTQIA+. Além disso, reacende a discussão sobre inclusão e diversidade de gênero ao propor uma inversão de papéis. Isto pode ser um passo à redução de preconceitos. E, principalmente, esta capa pode apresentar um olhar diferenciado para o corpo, mais subjetificado, diferente daquele considerado pela sociedade machista e patriarcal.

Entretanto, nas divulgações da edição de outubro de 2021, no Instagram oficial da Playboy, houveram alguns comentários criticando ou demonstrando insatisfação com a capa. Algumas modelos que já posaram para a publicação afirmaram que o ensaio não condiz com o público da revista que, aliás, é majoritariamente masculino heterossexual. E se há uma preocupação por parte da direção da revista em relação à diversidade, por que ela não inclui diferentes corpos femininos? Ademais, ter em sua capa um homem gay com 17 milhões de seguidores no Instagram, não seria apenas uma estratégia para angariar pink money? E se a revista intenciona diversificar o público deveria investigar como é o desejo de pessoas que não se encaixam no padrão homem cisgênero e heterossexual e trazer ensaios mais inclusivos com frequência, não apenas esporadicamente.

Após a morte de Hugh Hefner, em 2017, há homens gays e mulheres, geralmente jovens, em cargos de chefia na Playboy. Eles tentam diversificar o olhar da marca visto que a objetificação sexual feminina não é mais encarada com naturalidade. Para Hefner, o ideal feminino para seu público seria “A vizinha gata sem roupa”. No entanto, com a difusão da pornografia por meio da internet e as discussões sobre igualdade de gênero, a Playboy continua forte enquanto marca, porém precisa diversificar o seu público. Então, ter um homem gay sensualizando em sua capa pode ser um pequeno passo em direção a esses novos rumos visados pela Playboy e para a visibilidade das pessoas LGBTQIA+. Todavia, ainda não é suficiente para acabar com a objetificação feminina e com os diversos preconceitos presentes na sociedade. Por fim, há a necessidade de encarar criticamente publicações deste tipo para entender que também existem interesses comerciais por parte da revista, afinal ela é um negócio, e precisa gerar lucros.



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