Moda e a busca pelo poder e prestígio:
- petricklacerda
- 29 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
Da Rainha Elizabeth ao Diabo veste Prada
Por Petrick Lacerda
O fato de que a sociedade do consumo incluiu a moda como uma necessidade do cotidiano de muitos, é algo já visível. Mas aqui, iremos debater algo que vai além: o consumismo provoca também a busca pelo engrandecimento social, e cada vez mais, roupas, indumentárias e acessórios são buscados como símbolos de poder e prestígio. Há aqueles que precisam apenas representar a grandiosidade de sua personalidade, e existem os que buscam se firmar, garantido os privilégios concedidos pelas relações sociais.
Analisando a história da humanidade, muitas são as demonstrações do desejo humano pela superioridade: reis, imperadores e ditadores usavam de inúmeros meios para manterem vivos os domínios que tinham, entregando à sociedade, o dever de respeitá-los ou até mesmo adorá-los. Para isso, cada cultura utiliza artefatos que comuniquem, de forma destacada, o imperialismo do governante. A moda, ou melhor, o estilo que consumiam, através das coroas, roupas luxuosas, pedras preciosas, demonstravam o poderio, e repercutia até mesmo nas artes, especialmente em esculturas.
Na Inglaterra, onde reina a monarquia parlamentarista mais famosa do mundo, a Rainha Elizabeth sempre é fonte de notícias nos sites fashionistas, revelando várias curiosidades. Entre as principais, está a das cores extravagantes das peças usadas pela monarca, que segundo os protocolos reais, em grandes cerimônias, é uma permissão exclusiva dela. A medida foi determinada para que Elizabeth seja facilmente identificada entre a multidão, e além de firmar o poder, configura segurança, caso ela esteja em apuros.
No cenário atual, o poder social não se restringe apenas aos grandes representantes, mas contempla a menor parcela da sociedade, que se encontra no alto grau de rendas, e que ainda assim, busca um prestígio imensurável. Além disso, a exigência de se estar de acordo com a moda, é bem frequente para se locar em um convívio, e manter-se vigente dentro de muito ciclos de relações. Aqueles que já se enquadram nos estilos de padrões, vivem em busca do auto melhoramento e aqueles que ainda não se encontraram, ou seguem às regras da moda, ou podem ser excluídos.
A comédia de 2006, dirigida por David Frankel, “O Diabo veste Prada”, retrata a busca da jovem jornalista, Andy Sach, em conquistar um espaço dentro da Revista Runway, chefiada pela temerosa diretora Miranda, que é quase uma ditadora da moda: arrogante e que pelo estilo e força, parece está sempre em um trono, pronta para receber seu culto pelos dominados. Andy, embora hábil e talentosa, usa um estilo pessoal despojado, sem glamour, prezando muito mais pelo conforto, e deixando de lado a moda seguida pelas colegas de trabalho, julgadas como “as de saltinho”.

O choque entre essas duas realidades, dificulta o caminho profissional da jornalista, inclusive nas ofertas de cargos dado a ela. Acontece a exclusão por parte da equipe, e inclusive, os próprios amigos começam a cobrar dela um novo estilo. Entretanto, a narrativa trará uma transformação de Andy numa mulher extremamente elegante e que também transmita poder, digna de prestígio. Mas para isso, ela abandonou a personalidade que tinha, e as relações sociais das quais compartilhava, passando a fazer parte de um ciclo social de poder.
Os questionamentos principais são: o que vale mais na moda, a identidade ou o poder? E até que ponto a identidade é massacrada para suprir a necessidade de se está inserido na sociedade? Andy possuía um estilo, no qual se encontrava e se entendia. O único poder que almejava era o de se tornar uma grande jornalista, da forma como se comportava. O anseio era que enxergassem seu trabalho, mas a distância entre ela e a moda, impedia a conquista do prestígio. Ela poderia não seguir o padrão da revista, mas tinha o seu próprio padrão, e acabou abandonando-o para seguir o imposto pela sociedade e ser aceita no ambiente em que vivia, conquistando poder e admiração. A parte boa é que ela conseguiu se encontrar em meio a tudo isso.

O cenário então acaba sendo bastante tóxico, regado ainda pela competitividade, pois o poder se reflete em exclusividade, almejando o ponto superior As marcas passam a produzir peças únicas, por valores absurdos, entregando aos consumidores uma ideia da garantia de prestígio e poder. É como se a lógica da concorrência comercial das empresas passasse a ser externada nos indivíduos. Além disso, tem o processo inverso, quando os clientes consomem exclusivamente uma marca por ser sinônimo de luxo.
A busca por ser o maior, com o melhor estilo e poderio social, rege muitas das relações existentes, como se o prestígio vindo dos outros, fosse essencial. A falta de auto aceitação e do entendimento de si mesmo, acaba sendo a maior problemática revelada, e a moda, guiada pelo consumo, torna-se o combustível nessa busca pelo poder e prestígio.
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